10.2.12

Gertrude Stein: uma rotina





Miss Stein acorda todo dia às 10h e bebe um pouco de café, de má vontade. A possibilidade de ficar nervosa sempre a deixa nervosa e ela acha que o café a deixará mais nervosa ainda, mas foram recomendações médicas. Miss Toklas, sua companheira, acorda às 6 e começa a circular pela casa, faxinando. Certa vez quebrou um belo espelho veneziano e chorou. Stein deu uma gargalhada e disse: "Ora, que importa? Objetos existem para serem consumidos, como bolos, livros e gente." Toda manhã Toklas dá banho, penteia e escova os dentes do poodle francês das duas, Basket. O cachorro tem sua própria escova.

Stein tem uma banheira gigantesca, feita especialmente para ela. Uma escada precisou ser retirada da casa para instalá-la. Após o banho, ela veste um roupão de lã enorme e escreve um pouco, embora prefira escrever do lado de fora da casa, após vestir-se. Na casa de campo em Bilignin há montanhas e vacas e Stein gosta de ficar olhando montanhas e vacas enquanto escreve. As duas costumam sair no Ford até encontrar um lugar inspirador. Então Stein senta num banquinho portátil com seu lápis e bloco, enquanto Toklas, munida de coragem, coloca uma vaca no campo de visão de Stein. Se a vaca não combina com o estado de ânimo de Stein, as duas voltam para o carro e procuram outra vaca. Quando a grande senhora está inspirada, ela escreve rápido por uns 15 minutos. Mas em geral ela só fica sentada lá, olhando para as vacas.

Stein sempre se encarrega de dirigir o automóvel. Toklas fica no banco traseiro, gritando e sacolejando, pois todo mundo sabe que Stein é a pior motorista da história da engenharia automobilística. Entra nas curvas rápido demais, não usa a mão para sinalizar, dirige na contramão, não respeita sinais de trânsito da mesma forma que não respeita os de pontuação, e nunca buzina. Apesar disso, nunca sofreram um acidente.


(The New Yorker, 13 de outubro de 1934, tradução de Maira Parula)


8.2.12

Edgardo Dobry


Pizza Margarita

El once de junio de mil ochocientos ochenta y ocho
Margarita de Saboya, primera reina de Italia unificada,
llegó a Nápoles en visita solemne.
Rafaele Esposito, cocinero del palacio real de Capodimonte,
creó en su homenaje una pizza
con los colores de la flamante bandera:
blanco (la muzzarela), rojo
(los tomates) y verde (la albahaca).

Dichosa reina de una nación
recién unida en Estado:
no inmortalizada en duro bronce
sino en crujiente engrudo.
Tu recuerdo no es cosa de eruditos:
millones de hambrientos te invocan cada día.
Y mientras se arruinan los palacios
y nadie molesta el sueño de los versos
vive tu nombre en la perpetua deglución.



Edgardo Dobry
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